A bússola agora deu pra pifar e o caminho que antes era tão claro, não existe mais, ficou turvo, desvaneceu, se perdeu nesse emaranhado de galhos secos e teias de aranha, os quais impedem a passagem de ir.
A bússola quebrou e eu estou perdida, bem no meio do caminho, sem chance de voltar àtras, com medo de colocar os pés à frente. Inerte!
Tento retornar ao passado pra me reencontrar, mas não me acho… há 2 semanas eu escuto velhos álbuns que fizeram minha adolescência, não me ouço, não me vejo, não me percebo.
Já busquei no meu hotmail, meu e-mail mais antigo, tudo o que foi enviado e recebido há cerca de 15 anos, o que eu falava, como escrevia, o que eu pensava…
Já vi as fotos do HD. Já busquei as memórias, os primeiros melhores amigos.
Não adianta, eu não me encontro lá, nada agora me reflete.
Eu já não estava naquele passado quando me perdi de mim outra vez, não há vestígios de que caminhei por lá recentemente.
O agora também não existe. Me sinto flutuando no presente.
Olhar pra dentro de mim? Qual é?
Não tem nada aqui, além de um grande vazio, branco e feio.
Hoje meus pensamentos são facas afiadas e retalham minha vontade de continuar caminhando rumo ao futuro.
Até ontem tudo estava aqui, e era tão claro, a minha felicidade era tocável, tudo era lindo, o sol brilhava, o mar que eu sempre sonhei – verde-azul-turquesa – estava ali do outro lado da rua, as pequenas viagens, as vilas que conheci, as pessoas mais doces que me faziam compreender e acreditar que, pela primeira vez na vida, eu estava no lugar e na hora certa. Eu me via no agora, e eu gostava do que via.
De repente, não importa pra onde eu olhe, não vejo nada.
Agora, nada é tão concreto quanto a minha induzida solidão.
Sim, induzida, aos poucos estou afastando todos, não quero que ninguém acompanhe a queda e decadência como uma novela cuja audiência é tão mesquinha quanto a história da mocinha.
Eu quero seguir só.
Quero ficar.
Quero partir.
Quero tudo e nada.
Quero dormir e acordar no passado.
Quero não dormir, pra não ter que acordar.