Como minha mãe me ensinou sobre amor ao próximo

Eu me lembro de ter uns 4 anos de idade, já estava de banho tomado e sentadinha na beira da mesa de madeira com tampo hexagonal que era herança da minha avó materna; na cozinha, minha mãe terminava de fritar o último ovo para que pudéssemos almoçar, no menu do dia tinha: arroz, feijão e um zoião pra cada. 

Embora simples, nossas refeições eram muito apetitosas, minha mãe sempre fez questão de colocar muito amor e tempero em cada alimento que preparava, não importa se lancharíamos um copo de farinha com café e açúcar ou um pão caseiro quentinho do dia, ela sempre colocava todo esmero da vida nas refeições que comeríamos. 🥰

Na frente da nossa casa no setor 9 havia um campo muito grande e comumente vazio. Ali, em algumas épocas do ano se instalava um circo, outras um parque de diversões, em algumas vezes nós víamos barracas de ciganos serem acampadas ali na frente. 

Neste dia, talvez atraído pelo cheiro de amor da comida de minha mãe, um jovem rapaz atravessou a rua e veio lá da turma dos ciganos bater me nosso portão. 

Eu me lembro que estava meio friozinho, Vilhena na minha infância costumava ter muitos dias gelados ao que me lembro, então nós ficávamos os 3 trancafiados dentro de casa com tudo fechado. 

Enquanto fritava o ovo de meu irmão, minha mãe foi interrompida por palmas fortes vindas do portão acompanhadas de: “ô de casa”.

Ela desligou o fogo e nos disse pra ficarmos sentados – o que entrou em um ouvido meu e saiu pelo outro – enquanto ela caminhava em direção ao portão, eu tratei de pular da cadeira e ir correndo atrás. 

Primeiro escondi metade do meu corpo na porta enquanto usava meus olhos grandes pra observar a movimentação no portão, depois que vi um homem conversando com ela fui me aproximando atrás de minha mãe, eu sabia que na frente das visitas ela nunca me repreendia. Então, fui me chegando aos poucos, até que encostei nela, segurei a barra de sua camiseta e olhei nos olhos fundos daquele rapaz magro e maltrapilho. Tive medo. 

Enquanto analisava o indivíduo, lembro de ouvir minha mãe dizer: “mas eu não tenho carne moço, só tenho ovo”, ao que ele respondeu algo como “Deus é bom, que a abençoasse e não se importava”. 

Na hora, minha mãe disse a ele pra esperar um pouco e voltou pra dentro de casa me levando junto de mãos dadas. 

Enquanto ela pegava o ovo que acabara de fritar na frigideira e montava um prato cheio de arroz com feijão, eu a olhava meio de canto, porque afinal, aquele ovo tinha dono e só faltava ele pra gente finamente almoçar. 

Minha mãe colocou tudo em um prato de plástico que tínhamos, pegou um conjunto de talheres e levou para o homem. 

Eu seguia pendurada pela camiseta como um grude, vendo e acompanhando cada movimento daquela trama que se desenrolava.

Ela entregou o prato ao moço e eu me recordo de reparar que quando ele olhava aquele zoião, parecia que os olhos dele enxergava um suculento frango assado inteiro, como nos desenhos de Tom e Jerry que eu assistia todas as manhãs. 

Quando voltávamos pra dentro de casa, eu perguntei à minha mãe porque ela tinha dado o ovo do meu irmão pro moço, as palavras dela que nunca saíram de minha mente e do meu coração foram: 

“Porque, minha filha, nós nunca sabemos quando Jesus vai bater na nossa porta disfarçado para testar a nossa bondade”. 

Eu costumo dizer que nós nunca sabemos quando alguma coisa vai virar memória pra sempre. Quando uma frase ou situação vai se tornar parte de um registro akáshicos em nossa vida. Minha mãe, certamente, não fazia ideia de que quase 30 anos depois eu ainda me lembraria desse episódio, mas eu me lembro perfeitamente.

Desde então, mesmo nos dias que deixo de crer que realmente exista algo em cima das nuvens capaz de ouvir qualquer prece, eu sempre acredito que alguém que me pede um prato de comida, é um Jesus disfarçado. 

Quantas vezes por dia Jesus tem batido em sua porta? Em quantas delas você o tem ajudado? 

Devo a minha mãe toda a minha humildade e amor / olhar ao próximo. 💕🌸

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