Quanta riqueza cabe numa vida simples?

Enquanto colho manjericão fresco na minha modesta hortinha plantada junto com a minha vó, penso na riqueza que consegui, finalmente, acumular no alto dos meus 32 anos.

Como eu posso ser tão agraciada?

Em um pequeno espaço de tempo, enquanto eu estava perdida nesta minha curta jornada de vida, eu já tive a ambição de enriquecer financeiramente, claaaro!

Eu estava determinada a ser alguém muito importante na minha área, e ora quem nunca esteve, né?

Eu estudei por anos a fio, lia muito, trabalhava muito, me empenhava incondicionalmente em tudo que estivesse ligado a minha ascensão profissional e não me importava se aquilo iria me custar uma noite de sono, um fim de semana trabalhando ou alguns natais longe da minha família.

Eu realmente acreditava que estava lutando por algo maior, para ser alguém melhor, eu planejava alcançar algum lugar de prestígio, estava certa disso e pensava que era o que queria pra minha vida.

O que eu definitivamente não sabia, é que o preço para ser alguém que impressionaria outras pessoas, seria me tornar uma estranha para aqueles me amam para além da riqueza ou de qualquer status.

Eu não imaginava ser possível me afastar tanto de quem eu realmente sou, até que um dia me vi tão longe de mim mesma, que cheguei a duvidar que encontraria o caminho que me trouxesse de volta.

Eu pude compreender na dor, que os nossos dias na terra são estritamente limitados, e não há dinheiro ou status que possa comprar uma vida que te faça feliz, entendi que era preciso viver de verdade.

Hoje, olho pelo retrovisor e, finalmente, posso dizer que não há nada que eu vivi ao longo desses 10 anos de busca que se possa comparar a fortuna que conquistei em 2 anos vivendo “sob nova direção”.

No passado eu já estive em reuniões importantes, já estive em um cargo importante, já sentei ao lado de pessoas importantes, já dei aula, já palestrei, já fui reconhecida, ganhei prêmio e, em um determinado momento, eu cheguei a realmente me considerar importante, sem me dar conta de que toda essa importância, essencialmente, não significava nada. Absolutamente nada. Nadinha mesmo.

Pra Manu, basta que eu seja a titia Pri.

Pros meus pais, basta que eu seja a filha que liga de vez em quando e que apareça mais.

Pra minha vó, basta que eu volte a ser a neta que não abre mão do Natal em família.

Pro meu irmão, basta que eu seja a mana que está ali pra ouvir e aconselhar quando ele precisar conversar.

Pro André, basta que eu seja eu mesma. A Priscila que ele conheceu no Senai em 2007.

Pra Sah, basta que eu responda o whats uma vez por semana e não suma.

Pra minha família inteira, basta que eu esteja sendo feliz de verdade.

E pra mim, basta que essas pessoas, que realmente são importantes na minha vida, me reconheçam.

——

Eu percebi que estava me perdendo dentro desse emaranhado de caminhos existentes em mim mesma, nas minhas ambições, eu inventava sonhos cada vez mais custosos para realizar, pregava na parede aquelas metas irreais – como se eu dependesse daquilo pra me sentir feliz – e não parava de incluir novos desejos na lista.

Nessa época, eu morava em uma cidade com ar de grandeza, muita tecnologia, muitas facilidades, a cidade que tudo funciona, “a Europa do Brasil” e, sem me eximir de minha responsabilidade, isso me deslumbrou em determinado momento.

Hoje, quando saio pra ir ao mercadinho da rua no meio da tarde de uma terça-feira, numa cidade de pouco mais de 5 mil habitantes, e no caminho eu posso parar e ficar contemplando a imensidão azul do mar, sinto o que alcançei a verdadeira riqueza, enxergo então a beleza da vida, e ela é de graça.

Todos os dias quando volto da academia, faço questão de retornar pelo caminho da orla, só pra deixar que meus olhos se encham de alegria contemplando as coisas mais simples da natureza, como os coqueiros que farfalham em sincronia regidos pelo vento da manhã.

Eu não quero ser piegas ou clichê, realmente escrevo o que sinto no coração agora, com toda minha sinceridade e paz. Há quanto tempo eu não sabia o que era paz.

Me sinto rica quando sinto a brisa me tocar a pele, me sinto importante quando pego um livro e deito pra ver o pôr do sol da rede, me sinto verdadeiramente privilegiada quando vou no mercado do artesanato tomar suco natural de maracujá e fico conversando com a Mônica sobre o tempo, percebendo o quanto ela estima minha companhia ali. Me sinto abençoada quando chove e eu posso ficar parada, só olhando a água batendo na grama.

Sabe, teve um tempo que me senti morta por dentro, bem quando escrevi aqui nesse blog que – da riqueza de sentimentos bons eu fui à falência – mas hoje eu sinto que a verdadeira riqueza estava bem perto, dobrando a esquina (literalmente), e em poucos passos eu pude alcançar e contemplar seu verdadeiro significado.

Como não me sentir agraciada?

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Notas para o futuro: Eu tive um amigo que ‘enriqueceu’ antes de mim.

É, ele falava sobre essa felicidade das coisas simples, falava muito sobre desapego, ele dizia que queria que a vida dele coubesse em uma mochila, que ele carregasse somente aquele peso e eu achava isso uma loucura, mas admirava a coragem dele.

Sem dúvidas eu estava cega demais e trabalhando demais pra enxergar e compreender o que ele tentava ensinar. Mas não posso deixar de creditar a ele parte da minha mudança de vida.

A semente foi plantada.

Ele me impactou com seu pensamento e a pequena revolução que fez em sua vida e, mesmo que o meu processo de mudança tenha demorado ainda pra acontecer, eu com certeza busquei força na trajetória dele pra tomar as decisões que precisava tomar.

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